Espécie mais antiga já encontrada na bacia do Araripe pode ser vista no Museu Plácido Cidade Nuvens

O Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (URCA), recebeu, na manhã deste domingo, 06, o holótipo (espécime única) do Aratasaurus museunacionali, a mais antiga espécie de dinossauro já encontrada na Bacia do Araripe. O material foi repassado pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se encontrava o achado. A descoberta do fóssil aconteceu na Bacia do Araripe, em 2008, e foi batizado em homenagem ao Museu Nacional em julho deste ano, durante coletiva com os pesquisadores. A pesquisa foi publicada na revista do Grupo Nature – Scientific Reports.

A descoberta foi apresentada por pesquisadores da URCA, Museu Nacional/UFRJ e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O professor doutor da URCA, o paleontólogo Álamo Saraiva, um dos autores da descoberta, afirma que a devolução desse holótipo ao Museu de Paleontologia, em Santana do Cariri, foi um ato extremamente importante pelo fato de ser o primeiro dinossauro que tem os seus restos depositados no local. “O holótipo é aquela peça que serviu como base para descrição da nova espécie. Qualquer um pesquisador que vai estudar esse grupo de dinossauros Coelurosauria tem que vir até o Museu Plácido Cidade Nuvens, comparar, fotografar e medir os restos com o material que ele está estudando”, afirma.

Dada essa relevância, o pesquisador ainda destaca a questão do fortalecimento do turismo científico na cidade, já que irá aumentar o fluxo de pesquisadores. “Outo aspecto é que essa condição possibilita um respeito das entidades que reconhecem o Museu como sendo um centro de pesquisa nacional e internacional, com capacidade de albergar fósseis importantes”, diz Álamo Saraiva.

Salvaguarda do patrimônio

 O diretor do Museu de Paleontologia, Allysson Pinheiro, afirma o equipamento é o local mais adequado para esse material, encontrado no Cariri. “Museu é para salvaguardar o patrimônio da humanidade”, afirma. Para ale, o espaço ganha importância com a presença de holótipos, material que é referência dessa peça de arte. Não é o primeiro dinossauro, já que temos o Angaturama e o Santanaraptor Placidus, mas é o primeiro holótipo de Dinossauro do Museu.

O achado estava no Rio de Janeiro, com um dos pesquisadores do Museu Nacional. Por pouco, não chegou a se tornar parte dos escombros do equipamento histórico, em incêndio registrado no ano de 2018. O material estudado figura como do período Cretáceo, tendo cerca de 115 milhões de anos, na formação Romualdo. Uma das pesquisadoras, Juliana Sayão, da UFPE, destacou que esse grupo de animais era carnívoro, teria como representantes atuais as aves, e que poderiam estar mais dispersos do que imaginamos. Ela destacou a outra espécie também encontrada na região, e já identificada, o Santanaraptor, que recebeu a denominação em homenagem ao fundador do Museu de Paleontologia, em Santana do Cariri, Plácido Cidade Nuvens.

O material foi apresentado a paleontóloga Juliana Sayão, especialista em Archosauria, pelo então diretor do museu, Plácido Cidade Nuvens, já falecido. Foi encontrado na mina Pedra Branca, em Santana do Cariri. A pesquisadora identificou imediatamente como sendo de dinossauro e levou o material para a UFPE, onde iniciou os trabalhos de identificação do achado.

A expectativa é que a descoberta desse fóssil e sua exposição no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens faça com que as atenções do meio paleontológico se voltem novamente para a Bacia do Araripe, estimulando a curiosidade das pessoas para conhecerem esse antigo habitante do Nordeste brasileiro.

“Toda descoberta de um fóssil é importante porque obtemos registros que ajudam a reconstruir a história do planeta e refazer o caminho da evolução dos organismos que viveram aqui desde milhões de anos atrás. Muitas vezes o fóssil é único e guarda todas as informações sobre aquela espécie ou grupo de animais”, explica a paleontóloga da Universidade Federal de Pernambuco, Juliana Sayão.

Características da anatomia

A anatomia do fóssil encontrado, principalmente a dos dedos do pé, indica que se trata de uma linhagem de dinossauro com origem mais antiga do que a que deu origem aos tiranossaurídeos. Isso também é novidade, pois embora os Coelurosauria tenham algumas formas icônicas, como o Tyrannosaurus rex, pouco se sabe a respeito da origem desse grupo de famosos dinossauros.

Também, não se sabe muito sobre onde essas linhagens mais antigas estavam no planeta. “O Aratasaurus aponta que parte dessa rica história pode estar no Nordeste do Brasil e na América do Sul. Sendo assim, ainda há muitas lacunas para desvendar esse quebra-cabeças evolutivo, mas com essa descoberta colocamos mais uma peça para entendê-lo”, ressalta Juliana.

“O Aratasaurus é uma linhagem irmã do Zuolong, um celurossauro do Jurássico da China, “isso que sugere que os celurossauros mais antigos estariam mais amplamente distribuídos pelo planeta e ao longo de um tempo maior”, relata o paleontólogo chinês Xin Cheng.

Além de sua importância científica o Aratasaurus guardará a responsabilidade de divulgar a paleontologia na região do Cariri. “Essa descoberta é um marco para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, como o primeiro fóssil de dinossauro depositado nesse museu e espera, com isso, aumentar a visitação de áreas do Geopark Araripe”, comemora o paleontólogo, Álamo Saraiva.

Elizangela Santos

Jornalista

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