Por Kennedy Saldanha
De acordo com o dicionário Chapada é uma área de terra elevada, de dimensões consideráveis, com topo relativamente plano. Do ponto de vista geográfico é exatamente o que a Chapada do Araripe é. Do ponto de vista do turismo de aventura, ela sempre será uma porta aberta para novas possibilidades pelos diversos caminhos que lhe atravessam na rota dos trilheiros no Cariri.
Vista de longe, a cidade do Crato é como um cartão postal ao pé do paredão que a vista alcança. E as descobertas que nele se perpetuam a cada trilha não cabem numa página em branco, ante o sentimento de pertença que nos conecta a natureza do lugar.
Adentar a densidade da mata no começo de uma trilha é uma oportunidade de cartografar o caminho e seus detalhes pelo que de mais poético e abstrato que há em nós. Cada um compreende e percebe diferente o seu entorno. Mas tudo é novidade, desde a simplicidade dos moradores, a variedade das espécies nativas que fazem da floresta um lugar de encantos, um olho d´água, uma flôr silvestre.
A Chapada do Araripe é datada pelos arqueólogos com 120 milhões de anos e tem de mais de 250km de comprimento, sendo, portanto, a maior reserva ecológica do sul do Estado do Ceará. E é nela, enquanto aprendiz de trilheiro que me refaço ante a agitação dos horários, planos e prazos cotidianos do dia a dia a cada domingo. A caminhada dentro da floresta é mediada pelo som do vento na copa das árvores centenárias e pelo barulho produzido pelos pés sobre as folhas secas.
E o cheiro de mato e terra que nos acompanha, sempre esteve ali. Um cheiro que é a mescla de muitas plantas, ervas desconhecidas, capim, esterco animal, rastro de um caminho de água que secou, seixos, árvores mortas. Tudo é paisagem, presença, densidade. Tudo em volta é só beleza, como na canção. Mas não há tristeza nessa beleza que avança sobre o vale, sobre as cidades, distritos. Dos platôs lapidados pelo tempo – exuberantes pedras moldadas que avançam sobre os abismos – é possível contemplar o entorno, a vastidão do céu, a cenografia perfeita para aquela foto ser popularizada na rede social.
Cenário Simétrico
A chuva, o sol e o vento foram sem dúvida grandes aliados para a construção de um cenário tão simétrico e tão perfeito para acolher as sementes, as flores e o frutos da floresta que emolduram o Cariri. As trilhas que cortam e cruzam a Chapada, de norte a sul, de leste a oeste, não se repetem. Cada uma tem um perfil próprio, uma vegetação, uma cor, uma temperatura. Assim como elas, não somos os mesmos a cada roteiro. É impossível repetir as intenções, os sentimentos, o cansaço e a satisfação de conquistar o ponto mais alto.
As trilhas na Chapada do Araripe personificam bem a natureza inquieta que habita o homem, esta necessidade de desbravar, de saber o que está além do que a vista não alcança e quando alcança, querer mais, ir além do limite do que se é ser infinito. Por estas bandas muitos grupos fazem a pé, de carro, de moto, de bicicleta o percurso que lhe dinamiza, que lhe arvora a seguir em frente pelo simples desejo de trilhar, compartilhar, reviver lugares, conviver. Trilheiros Kariris este texto é uma forma de dizer muito obrigado por me ensinarem a descobrir a Chapada sob a ótica dinâmica do puro movimento.
(Kennedy Saldanha é Jornalista e reside no Crato há cerca de ano e se integrou aos Trilheiros Kariris, realizando com frequência trilhas pela Chapada).
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